Um artigo de Silvia Federici na revista Nueva Sociedad discute o trabalho de cuidado de idosos, em sua grande maioria efetuado por mulheres ao redor do mundo (da própria família ou remuneradas).
A autora aponta que a chamada globalização do cuidado de idosos durante as décadas de 1980 e 1990 transferiu grandes quantidades de trabalho para as mulheres imigrantes, o que permitiu uma reestruturação do cuidado aos idosos sem onerar os estados e cidadãos. Para as trabalhadoras imigrantes, no entanto, a situação é mais complexa: a autora mostra que, no caso da Itália, calcula-se que três de cada quatro badanti (as cuidadoras de idosos) têm filhos, mas somente 15% têm suas famílias com elas, ou seja, suas próprias famílias têm de passar sem o cuidado que proporcionam a outras pessoas. Também devido à desvalorização do trabalho reprodutivo e ao fato de que são imigrantes, frequentemente sem documentação em ordem, e mulheres negras, as trabalhadoras assalariadas são muito vulneráveis.
Segundo a autora, o trabalho de cuidado de idosos sofre uma dupla desvalorização cultural e social: i) da mesma forma que o restante do trabalho reprodutivo, este não é reconhecido como trabalho, mas ii) ao contrário do que acontece com a reprodução da força de trabalho, cujo produto tem um valor reconhecido, o cuidado de idosos é estigmatizado como uma atividade que absorve valor, mas não o gera, pois os idosos seriam “seres improdutivos”.
Assim, o argumento central da autora é de que é necessária a transformação da divisão social e sexual do trabalho hoje, bem como o reconhecimento do trabalho reprodutivo (nele incluído o trabalho de cuidado com idosos) como trabalho.
Para ler mais:
Sobre o trabalho de cuidado de idosos e os limites do marxismo |